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domingo, 6 de julho de 2014

Parábolas dos talentos

Texto: Vicente Abreu
Fonte: Revista Cristã

Repórter Novo Testamento entrevista Mateus sobre a Parábola dos Talentos.

Eu estava na casa de Maria, mãe do evangelista Marcos. A casa era um ponto de encontro dos primeiros cristãos em Jerusalém. Nessa ocasião tive a graça de me encontrar com Mateus, o ex-cobrador de impostos que se tornou apóstolo de Jesus. Quando cheguei, ele falava sobre a Parábola dos Talentos. Ele falou tão lindamente que, depois, não resisti e fui conversar com ele. Logo percebi que Mateus amava essa parábola. Tanto que, mais tarde, ele será o único evangelista a mencioná-la nos Evangelhos. Leia Mateus 25, 14-30. Ao falar sobre o assunto, seus olhos brilhavam. Depois de ouvi-lo, aquela parábola - que eu já tinha lido e ouvido tantas vezes - ganhou outro significado. A seguir, veja m trecho de nossa conversa.

Repórter NT: Por que você gosta tanto dessa parábola?
Mateus: Primeiramente, porque é um ensinamento do meu Senhor Jesus. Portanto, é um ensinamento para a vida, para a felicidade. Depois, porque Jesus contou essa parábola quando nos falava sobre o final dos tempos. E, finalmente, porque ela encerra verdades maravilhosas, sobre a vida presente, sobre a vida futura e o que devemos fazer para conquistá-la.

Repórter NT: Quem é o dono dos bens na parábola?
Mateus: É Jesus. Ele é o dono, o patrão. Por ele todas as coisas foram feitas. Ele é o Filho em quem o Pai colocou todo o seu amor. E é a ele que todos nós vamos prestar contas.

Repórter NT: Na parábola, o dono iria partir para o estrangeiro...
Mateus: Sim. O patrão iria partir para uma grande viagem. Então, ele chama seus empregados e confia a eles seus bens! (Mateus se emocionou) Jesus já fi fazer sua grande viagem a um lugar que, para nossa visão pequena, poderia ser comparado ao estrangeiro, um país distante. Mas, pela fé, sabemos que Ele não está distante de nós, apenas "parece" que foi para muito longe...

Repórter NT: Se entendi corretamente, os bens continuam sendo do patrão...
Mateus: Exatamente! Os bens não são dados aos empregados. São "confiados" a eles, para que eles os administrem e os façam prosperar na ausência do patrão. Ou seja, o Senhor demonstra extrema confiança em seus empregados.

Repórter NT: E o que são os talentos?
Mateus: Talento é a moeda de maior valor que existe. Um talento equivale a trinta quilos de ouro, ou seis mil denários! 
Nota: Um denário é uma diária de um trabalhador como um pedreiro, por exemplo. Portanto, um talento equivale a seis mil dias, ou mais de 16 anos de trabalho de um pedreiro.

Repórter NT: E o que são os talentos que Jesus confiou a nós?
Mateus: São os ensinamentos dele, a Palavra de Deus, o Reino que Ele anunciou, o batismo que nós recebemos, os sacramentos, o dom precioso do Espírito Santo dentro de nós, a fé e todos os dons para o serviço. Estes são os talentos confiados a nós. Eles são valiosíssimos. Valem muito mais do que o ouro. Mas, para entendermos melhor, Jesus comparou-os à moeda do 'talento".

Repórter NT: Quer dizer que o talento não é aquele dom natural que todos nós temos?
Mateus: Não. Em principio, Jesus não estava falando disso. Os dons naturais que herdamos como inteligência, força, aptidões, beleza, capacidade artística e tantos outros se tornam secundários em vista dos "talentos" que Deus confiou a nós.

Repórter NT: Quer dizer que não precisamos desenvolver nossos "dons" naturais?
Mateus: Não é isso que eu quis dizer. É claro que devemos desenvolver nossos dons naturais. Mas, para isso, a própria natureza já no impulsiona. É o rumo natural das coisas. E não só a natureza nos impulsiona mas também a necessidade de sustento, a ambição, o desejo de lucro, a vaidade... Os dons naturais, se mal usados, podem nos afastar de Deus. É por isso que, nossos dons naturais se tornam secundários.

Repórter NT: Um dom natural pode nos ajudar a fazer os talentos de Deus prosperarem?
Mateus: É isso! Por exemplo, alguém que tenha o dom natural de falar bem: essa pessoa pode fazer a Palavra de Deus prosperar e se expandir nos corações de outras pessoas! É o dom natural a serviço do "talento" que é de Deus. Alguém que tenha tino comercial pode ajudar o Ministério da Palavra de Deus a se sustentar economicamente. Alguém com talento para as artes pode, através de sua arte, levar a mensagem de Jesus. Mas é preciso ter claro no coração que os dons naturais ajudam, mas não são eles que convencem os corações.

Repórter NT: Por favor, explique melhor...
Mateus: Deus não precisa de grandes oradores para fazer sua Palavra chegar aos corações. Deus precisa de pessoas que vivam a Palavra. Quem vive a Palavra de Deus a faz prosperar, mesmo sem perceber. É muito mais importante viver a Palavra do que pregá-la maravilhosamente bem. É mais importante, por exemplo, perdoar aos que nos ofenderam do que falar para os outros que devemos perdoar. É mais importante demonstrar amor através de ações do que falar sobre o amor.

Repórter NT: Quer dizer que obedecer e viver a Palavra é fazer multiplicar os talentos?
Mateus: Sim. E é sobre isso que nós vamos ser cobrados quando o "patrão" voltar de sua viagem.

Repórter NT: Na parábola, o dono distribui os talentos conforme a capacidade de cada um. Como é isso?
Mateus: Jesus usou uma palavra grega para falar sobre isso. A palavra é "dynamis", que quer dizer "dinamismo, capacidade de fazer" de cada um. Quer dizer que Deus distribui seus talentos a cada um conforme a capacidade de realização de cada um. mas note, mesmo essa "capacidade de realização" é um dom de Deus. está escrito no Deuteronômio: "Não digas 'por minha força e pelo poder do meu braço criei para mim estas riquezas'. Lembra-te do Senhor teu Deus. É Ele quem te dá força para criar riquezas." (Dt 8,17-18). portanto, é Ele quem dá a cada um capacidade de realização. E é sobre essa capacidade - recebida de Deus - que seremos julgados.

Repórter NT: E é por isso que Deus dá mais "talentos" a uns do que a outros?
Mateus: Sim. Ele sabe quanta capacidade de realização você tem, porque foi Ele quem deu isso a você. Assim, Ele sabe também quantos talentos pode confiar a você. É, por isso que não podemos julgar nem inventar ninguém se ele tiver esse ou aquele talento que eu gostaria de ter. Quem distribui os talentos é Deus e Ele sabe muito bem como e porque faz isso.

Repórter NT: E o que é "enterrar o talento"?
Mateus: É subestimar a capacidade de realização que Deus deu a você. É achar que os talentos que você recebeu são difíceis demais de se realizarem. É ouvir a Palavra de Deus e não vivê-la. É ser batizado e não desenvolver a graça maravilhosa que recebeu no batismo. É ser batizado e viver como pagão. O talento está lá. Deus confiou. Mas a pessoas enterra, não procura conhecer, não procura desenvolver. O talento, como o dinheiro, não cresce por si só. É preciso aplicar-se a ele, trabalhar, esforçar-se para que ele cresça. Enterrar talento é achar que os dons de Deus vão se desenvolver por eles mesmos, sem o meu empenho. Ao que age assim, Jesus chama de "servo indigno e preguiçoso" (Mt 25,26).

Repórter NT: Deus toma um talento de volta?
Mateus: Não. Se Ele confiou a nós, o talento sempre estará lá. Mas quando chegar a hora da prestação de contas, aí sim, o talento pode ser tomado de nós, se o tivermos enterrado. Foi isso que aconteceu com o último sevo da parábola, aquele que enterrou o talento: o que ele tinha foi tirado dele e dado ao que tinha mais.

Repórter NT: Por que o que tinha mais recebeu mais ainda?
Mateus: Porque ele se aplicou mais, ele fez o talento de Deus crescer mais! Ele fez o mundo e a vida ficarem melhores. Ele levou para frente o projeto de Deus. Por isso, merece tal recompensa.

Repórter NT: E a recompensa?
Mateus: Deus diz aos servos bons: "Você foi fiel no pouco, por isso, ponho você à frente do que é realmente importante! Entre na alegria do seu Senhor." Por mais que um talento tenha alor, ele é pouco em vista da recompensa final, que é gozar da presença de Deus na felicidade eterna. Mas não devemos esquecer que um talento é precioso para Deus e jamais deve ser enterrado. Um talento salva vidas para Deus.


"O talento está lá. Deus confiou. 
Mas a pessoa enterra, 
não procura conhecer, não procura desenvolver"

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