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quinta-feira, 3 de julho de 2014

Por que Jesus fazia milagres?

Texto: Pe. Francisco Sehnem, scj
Fonte: Revista Brasil Cristão

          Os milagres estão intimamente associados a missão de Jesus, a tal ponto que, negado os milagres, se nega a própria identidade de Jesus. Os Apóstolos, desde as suas primeiras pregações, apresentaram Jesus como autor de milagres (cf At 2,22 e 10,38). Os milagres estão de tal modo inseridos na trama da missão de Jesus que sem eles não se explicariam a admiração e o entusiasmo que Jesus suscitou desde o início de sua missão pública. Jesus falou mediante palavras e sinais, como bem dá a entender Mateus ao sintetizar a vida pública de Jesus: "Jesus percorria todas as cidades e aldeias ensinando nas sinagogas, pregando o Evangelho e curando de todas as doenças e enfermidades" (Mt 9,35; Mt 4,23).

          São Mateus, no seu Evangelho, nos diz que Jesus mesmo explicou o significado dos seus milagres:

1. João Batista manda perguntar a Jesus: "Sois vós aquele que deve vir, ou devemos esperar por outro?" Jesus responde apontando seus milagres: "Os cegos recuperam a vista, os coxos andam, os leprosos são purificados e os surdos ouvem, os mortos ressuscitam e os pobre são evangelizados" (Mt 11,2-6). Com outras palavras: Jesus diz que está cumprindo as profecias messiânicas, que identificam o Messias mediante a realização de sinais prodigiosos (cf. Is 26,19; 29,18s; 35, 5s; 61,1). Por conseguinte, segundo Jesus, os milagres vêm a ser os sinais de que Ele é o Messias.

2. Jesus responde aos fariseus: "Se é pelo Espírito de Deus que expulso os demônios, então o Reino de Deus já chegou até vos" (Mt 12,28). No caso, os milagres são os sinais de que o Reino de Deus já chegou à terra. Com efeito, dominando os males físicos (doenças e achaques) e morais (o pecado) dos homens, vencendo a própria morte, Jesus mostra que, na sua pessoas e nas suas obras, o Reino de Deus se faz presente e atuante neste mundo. Assim os milagres se inserem harmoniosamente na pregação de Jesus, comprovando-a e autenticando-a.

3. "Jesus começou a verberar as cidades onde havia feito a maior parte dos seus milagres, por não se terem arrependido: 'Ai de ti Corazim! Ai de ti, Betsaida! Porque, se em Tiro e em Sidônia tivessem sido realizados os milagres que em vós se realizaram, há muito se teriam arrependido, vestindo-se de cilício e cobrindo-se de cinza. Mas eu vos digo: No Dia do Julgamento, haverá menos rigor para Tiro e Sidônia do que para vos. E tu, Cafarnaum, por acaso te elevarás até o céu? Antes, até o inferno descerás. Porque, se em Sodoma tivessem sido realizados milagres que em ti se realizaram, ela teria permanecido até hoje. Por isso, eu te digo que no Dia do Julgamento haverá menos rigor para a terra de Sodoma do que para ti" (Mt 11,20-24). - Destas palavras de Jesus se depreende que os milagres foram efetuados em Corazim, Betsaida e Cafarnaum precisamente para que tais cidades se convertessem, compreendendo a irrupção do Reino Messiânico. Os milagres são pois, apelos ou sinais eloquentes pelos quais Deus chama os homens a passar do pecado para uma vida nova.

          Os milagres evidenciam a identidade de Jesus. Ao vê-los, os homens espontaneamente perguntam: "Que é isso? Comandam até mesmo os espíritos imundos e estes lhes obedecem!" (Mc 1,27) ou ainda: "Quem é este, a quem até o vento e o mar obedecem?" (Mc 4,41). Algo de inédito aparece entre os homens,... e este inédito é o Messias assinalado por suas obras.

          São Tomás de Aquino escreve que Jesus fazia milagres para comprovar sua divindade. Isto porque Jesus fazia milagres de uma forma nunca realizada antes. Realizava milagres por uma natureza própria. Jesus operou milagres que ultrapassam todas as virtudes criadas. Apenas um Deus pode fazer o que Jesus fez. Então Jesus é Deus.

          Jesus ainda realiza milagres sem consultar ninguém. Jesus fazia os milagres com seu próprio poder.O Evangelho diz: "saía dele uma virtude que curava a todos" (Lc 6,19).

          E, vamos refletir ainda um pouco sobre a maneira de agir de Jesus como taumaturgo:
          Jesus nunca realizou um milagre em seu proveito pessoal, para pôr-se em evidência ou para sair de alguma situação embaraçosa. Sofreu fome, sede, cansaço, dormia onde se encontrava, sem ter onde reclinar a cabeça; quando foi aprisionado por seus inimigos, nada fez para se libertar e escapar da morte horrenda e humilhante. Quando pregado à cruz, foi ironicamente "desafiado" por seus adversários para se libertar, mas não o quis, embora pudesse desconcertar os seus algozes, que diziam: "Salvou os outros, mas não pode salvar a si mesmo. O Cristo, o rei de Israel desça agora da cruz, para que vejamos e acreditemos" (Mc 15,31s). Jesus quis parecer fraco e talvez impostor aos olhos de quem o desafiava.

          Jesus não ambicionava sucesso nem benefícios materiais. Ao contrário, proibia que as pessoas curadas apregoassem a obra. Assim o fez após ressuscitar a filha de Jairo e após a cura do surdo-mudo.

          O silêncio imposto por Jesus visava impedir o equivoco dos judeus que poderiam julgar que Ele veio para resolver problemas de ordem material e dar a Israel a hegemonia sobre os demais povos.

          Jesu não realizava milagres para punir. Jesus veio para salvar e não para destruir.

          Jesus efetuava milagres com grande simplicidade, sem recorrer a fórmulas mágicas nem a ritos complexos. Jesus não fazia alarde nem publicidade dos seus milagres; antes, era muito discreto e reservado. Não se apresentava , nem procurava doentes para curá-los, eram estes que se dirigiam espontaneamente a Jesus ou eram levados por outrem. Simplesmente, acolhia a todos e os curava. Bastava-lhe dizer uma palavra como autoridade, como no caso do leproso: "Quero, sê curado!" (Mc 1, 40-42).


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