Quando li o texto que segue, pensei no quanto ele é atual, mesmo após 31 anos.
A gente se acostuma a tanta coisa e, para mudar, sofre, pois é preciso uma longa e, por vezes, dolorosa caminhada de readaptação, de abandono do "velho", de abdicação de coisas que nos impuseram...
Fomos acostumados a receber "tudo pronto", sem discussão...
Fomos acostumados a tomar decisões rápidas, de última hora, sem tempo para refletir...
E, sem refletir, fomos obrigados a ser "oportunistas", para não perder privilégios; a ser bajuladores, para atingir nossos interesses; a ser golpistas também, para impor nossas "proposições"; a pisar, competitivamente, sobre os outros, para atingir nossos objetivos... E, sem refletir, nos deixamos penetrar pela desconfiança e pelo descrédito...
Fomos obrigados a receber "pacotes" sem tempo para avaliar o que continham e sem chance de não sofrer-lhes a influência.
Por isso, hoje, quando nos dão oportunidades de criar e instalar um mundo novo, uma escola nova, nos tornamos, na prática, dicotômicos:
- pregamos participação e continuamos a decidir sozinhos;
- queremos que todos falem, opinem, mas não damos a todos oportunidades para isso;
- pregamos reflexão, mas forçamos decisões precipitadas;
- queremos "ação consciente", mas impomos "regras", "normas", "leis", sem discussão;
- "valorizamos' o debate, mas não queremos "perder tempo"...
Mas afinal, o que queremos?
(Maria D. de F. Griebeler - Revista Mensageiro -março - 1987 - vol. 93 - n 1.048)